sábado, 30 de abril de 2011

Gay Talese: Um dos mestres das entrevistas e reportagens

Ele já foi chamado de "Picasso" da reportagem e ficou conhecido pela biografia  mais famosa de Frank Sinatra – Frank Sinatra está resfriado – publicado em abril de 1965 na revista americana Esquire. Gay Talese, um dos percussores do New Journalism, redigia, segundo Tom Wolfe, reportagens com técnicas da literatura.

O New Journalism é o termo jornalístico usado para classificar um texto relacionado a histórias de interesse humano, ou seja, textos que versam sobre acontecimentos cômicos ou trágicos nas vidas de pessoas comuns, e que, proporcionam uma maior liberdade na hora de escrevê-los.

Em 2010, Talese veio ao Brasil participar da Flip-2009 (Festa Literária Internacional de Paraty) e concedeu a mídia brasileira ( fazendo a alegria de muitos repórteres) várias entrevistas sobre esse seu “jeitinho” especial de apurar e escrever uma reportagem. Dois exemplos bem interessantes são uma entrevista ao Brasil Econômico em que o título da matéria é uma declaração bem “taleseana”: “Não mando e-mail, falo com as pessoas”; e o outro, é uma entrevista do Estadão em que o autor explica como teve a idéia de escrever histórica reportagem sobre o resfriado de Sinatra.

Talese é um nome importante a ser seguido, principalmente nas épocas atuais em que o comodismo, gerado pela facilidade no acesso a informação, se tornou generalizado. Confira abaixo o material:



Postado por: Flávia Pereira
Texto de: Thassiana Carias

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Lobão: "Não peguei aids por sorte"

Em entrevista para a ISTO É Gente, Lobão fala da sua declarada oposição às gravadoras, o modo como elas “mandam” nos recém-lançados artistas e sobre os elevados preços que elas cobram para a venda de um cd, fato que explica o porquê de não aderir à Campanha Contra Pirataria.
“Não peguei aids por sorte” é uma das revelações sobre sua vida pessoal. Ele também fala da sua prisão em 1987 por porte de drogas, sobre o preconceito que ainda enfrenta devido ao fato e sobre as amizades que fez durante o período de carceragem.
Ainda nesta entrevista você vai saber mais sobre sua saída da Blitz, banda que criou com Evandro Mesquita e Fernanda Abreu.

O cantor lança disco, critica Lulu Santos e Gilberto Gil, narra sua viagem ao mundo das drogas e do sexo livre e conta que se tornou amigo de bandidos quando esteve preso.


Vivianne CohenIsto É Gente, 28/02/2002

Não é difícil definir João Luís Woerdenbag, o Lobão. Ele é arrogante, egocêntrico, esnobe. A melhor definição, contudo, parte do próprio. “Sou um traidor”, diz. Ex-baterista e um dos fundadores da Blitz, largou a banda no auge em 1982 para seguir carreira solo. Quatro anos mais tarde, fez do disco O Rock Errou uma crítica à sua geração, que marcou o rock nacional. Na vida familiar, saiu de casa aos 17 anos brigado com o pai – e até hoje pouco se falam – e prefere ficar perto dos sobrinhos e não da filha, Júlia, 13 anos, fruto de um relacionamento passageiro. “Só nos vemos a cada quatro anos”, diz ele, casado há 11 anos com Regina Lopes. Lobão só não trai o que pensa. Aos 44 anos, continua firme em sua propalada cruzada contra as gravadoras. Fundou sua própria gravadora, a Universo Paralelo Records, e acaba de lançar o CD Uma Odisséia no Universo Paralelo, gravado ao vivo. O disco será vendido em bancas após a bem-sucedida trajetória de A Vida É Doce (100 mil cópias), seu trabalho anterior. “Vou vender mais de 300 mil discos”, aposta.


Você sempre criticou os discos ao vivo. Por que resolveu lançar um?
Sou amplamente reconhecido pelo meu trabalho na década de 80, mas tenho que afirmar o da década de 90, porque ele foi boicotado, exilado. Então é mais do que natural fazer um disco ao vivo, que tem um apelo maior em termos de vendagem, botar a R$ 11,90 e colocar duas inéditas para tocar. Vou mandar um CD autografado para as rádios. Não posso me ouvir no rádio. Isso prova que no Brasil não há liberdade de expressão. Estou jogando xadrez com esses caras desde que foi lançado o A Vida É Doce e esse aqui é meu xeque-mate. Agora, tá todo mundo esperando que toque. A maioria dos discos é cerceada pelas gravadoras. Há artistas, principalmente os mais novos, que sofrem ingerência direta para mudar o repertório. Estou lutando contra isso, não contra o disco ao vivo. Estou numa guerra.


Por que você não aderiu à campanha das gravadoras contra a pirataria?
Tem maior pirataria do que um disco custar 20 reais sem estar numerado e o artista ganhar cinco centavos e ser expulso da gravadora se não vender o que eles querem? Roubam o público, o artista e vão para a televisão pedir cuidado com a pirataria. Sou contra a pirataria, senão não teria disco numerado. Mas as gravadoras não têm controle sobre quantos discos foram vendidos. Falar disso no Brasil é tabu. Os meus discos são numerados. Quer acabar com a pirataria? Abaixe o preço do CD porque ninguém gosta de comprar disco pirata. O cara compra porque está sem dinheiro. Mais cínico ainda é ver grandes medalhões como o Gilberto Gil fazendo essas campanhas. Em 1987, eu e o Paulinho da Viola formamos um grupo para numerar os discos. Em 1998, você vê aqueles mesmos artistas indo para o lado oposto. Mas as gravadoras não podem baixar por causa dos jabás das rádios. Um disco meu em banca custa R$ 11,90 e o da Abril, R$ 19,90. Por quê? Qual o custo maior? Claro que não vendeu bem, R$ 19 é burrice.


Como você analisa o cenário musical hoje?
Acho que estamos numa época em que se tem de provocar as pessoas. Quer moleza? Vai ouvir Lulu Santos. Eu não sou churrascaria, não sou vitrola. Sou um artista, não um entretenedor. Essa coisa de dedinho para cima, todo mundo tá feliz, essa envernização do nosso visual. Você já viu o verniz da cara do Alexandre Pires? Não mexe um músculo. Wanessa Camargo, Sandy & Júnior, Xuxa, isso tudo é a nossa perdição. E o pior é que é isso que nos representa. Tenho que ser um pária da minha sociedade, porque eu não me represento.


Você é um crítico feroz da sua geração. Acha que foi uma geração perdida?
Não. Seria se fosse citar Biquíni Cavadão, Eletrodomésticos, Metrô, essa porcalhada toda que ficou pelo tempo. Assim como na Tropicália ficaram outros tantos. A minha geração mudou o mundo. Cazuza e Renato Russo eram do quilate de um Vinícius de Moraes, um Chico Buarque. Sou o único que sobrevivi. Sou a grande vingança da minha geração mesmo sendo o maior crítico dela. A rapaziada aprontou mas mudou toda uma geração. Ou você acha que a galera que ouve música hoje vai achar a Cássia Eller menor que a Elis Regina? Não há a menor possibilidade, inclusive porque não é. A Cássia é a maior cantora do Brasil de todos os tempos. O que beira a Cássia é Alaíde Costa, Elizete Cardoso. A Elis está um pouco atrás. Sempre falei que a Cássia é uma feliz mistura de Clementina de Jesus com Janis Joplin. Sempre disse isso desde que a vi cantando blues. Na hora, falei para minha mulher: “Essa é a maior cantora que já vi na minha vida”.


Como avalia a repercussão da morte da Cássia?
Os ânimos talvez estejam quentes em relação à morte da Cássia porque os preconceitos estão muito acirrados. Se a Cássia ganhasse o Grammy em vez de morrer, iam dizer: “A cantora brasileira que nos dá muito orgulho”. Agora que morreu com suspeita de drogas, virou “a roqueira Cássia Eller”. Dizem que ela estava num espírito de autodestruição. Não é isso. Temos uma máquina assassina produzindo assassinatos. O Tim Maia morreu de desgosto. Se abrissem a barriga dele, tinha um câncer chamado Som Livre. Como deixaram essa menina infeliz desse jeito?


Acha que ela não soube lidar de forma positiva com o sucesso?
Queriam colocar a Cássia de diva, reduzi-la a uma reles Marisa Monte. Botavam ela comportadinha e ela chegava e tocava Nirvana, era a maneira de ela reagir a isso. Na verdade, ela tinha pouca capacidade de verbalização. Sempre foi uma menina tímida que só queria cantar. Tem maior porre do que ter que cantar o resto da vida: “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...”? Aí ela não segurou. A única pessoa que eu gostaria que cantasse as minhas músicas se foi. As pessoas cultuam Gal Costa, Maria Bethânia, mas a Cássia é mil vezes melhor e mais poderosa. Ela sim era a nossa Billie Holiday.


Como vê a volta de grupos como Capital Inicial e RPM?
Sou contra. Se o Capital Inicial tivesse assunto, já teria feito um segundo disco. Daquele mato não sai cachorro. O RPM é ridículo, é para vender como está vendendo o Roberto Carlos. A Cássia dizia: “Estava acostumada a tocar para 40 pessoas e agora tem 40 mil e é tão fácil fazer sucesso no Brasil”. Hoje em dia, o artista está no seguinte patamar: ou tem uma fila para entrar na Casa dos Artistas ou tem uma fila para gravar um acústico da MTV. Isso não pode acontecer. Nunca vi alguém se dar bem depois de gravar um acústico. Deveria acontecer aqui o que ocorre nos Estados Unidos. A Alanis Morissette está no auge do sucesso e faz um acústico. Não é fazer porque está escondido.


Quem apresentou algo novo na década de 90?
A década de 90 tem coisas ótimas como Otto, Charlie Brown Junior, O Rappa. São muito mais interessantes do que a geração dos anos 80. Não havia uma banda como o Charlie Brown, eles tocam pra c., o cantor tem um puta carisma. Quando o Júlio Barroso (da Gang 90 & As Absurdettes) morreu, eu e o Cazuza ficamos órfãos, morreu a minha geração. Ela se aglomerou em grupos muito distantes, um de Brasília, outro do Sul, e que nunca saíram dos guetos. Com exceção do Renato Russo e do Cazuza, muitos começaram a fazer aquela coisinha para dançar (faz cara de deboche) e a coisa ficou velha antes do tempo. Vejo vários cadáveres e defuntos fazendo discos dos anos 80. Se não tem o que dizer, pára.


Por que somente você tem esse discurso?
Só tenho essa força de falar porque sou arrogante. Os outros estão submissos. Eu poderia estar capitalizando meus sucessos dentro de uma gravadora, batendo ponto e com cara de babaca. Será que o Lulu está feliz com o trabalho dele, acha que todo mundo quer cantar “nada do que foi será...”? Ele só fez isso. O Kid Abelha também faz as mesmas coisas. Agora não há mais saída porque o público se acostumou com eles repetindo e quando eles fazem coisa nova, o público não quer. O Gabriel, o Pensador há um tempo atrás era legal. É um cara que sabe escrever. Agora, quer falar bem de todo mundo. Faz aquela cara de bobo. Nunca vi um rapper ser bom moço.


Você se acha um sobrevivente da geração rock’n’roll?
Corri todos os riscos. Fazia muita sacanagem e não me dava conta da aids. Eu me lembro de uma situação em que estava me drogando muito com um amigo em Los Angeles, em 1989, e transando com várias prostitutas. No dia seguinte, completamente bêbado, achei que estava com aids porque comecei a me coçar. Já fiz vários testes. Não usava camisinha. Com certeza, fiz muito mais sacanagem que o Cazuza. Ele tinha um namorado e eu tinha várias. Não peguei a doença por sorte. Também poderia ter me contaminado através da cocaína.


Como é sua relação com as drogas hoje?
Muito cordiais (risos). A droga é uma paranóia da sociedade. Maconheiro agora é um cara possuído pelo demônio. Eu fumo maconha. Tenho 44 anos e leio proficuamente. Vão dizer que tenho menos neurônio do que alguém? Quero ver. A doença não é a droga, é o vício. Não sou acometido pela doença, talvez por ser nômade. Às vezes enjôo, não me detenho em nada. Já tomei muita heroína, passei um ano tomando direto. Passava os dias no quarto me drogando. Até que peguei a heroína que tinha comprado para mais de um mês e joguei fora na privada. Nunca mais tomei. Não cheiro cocaína há mais de dez anos.
 

 Por: Hosana Daher








“Eu fumo maconha. Tenho 44 anos e leio proficuamente. Vão dizer que tenho menos neurônio do que alguém? Quero ver”, provoca Lobão, que há dez anos deixou a cocaína








Acha que ficou estigmatizado como drogado por causa de sua prisão em 1987?
Sofro um preconceito muito grande, passei por cento e não sei quantos processos, virei um preso político e fui perseguido. Mas me orgulho muito disso, é uma coisa que só fez crescer a minha história. Qual o cara da minha idade, de classe média, que passou três meses na prisão e se tornou o xerife da carceragem e mascote do Comando Vermelho? Os presos me adoravam, eu distribuía remédios para eles dormirem.


Manteve contato com eles depois que saiu da prisão?
Virei amigo da rapaziada, ia para tudo quanto é boca de fumo, só vivia com eles. Fui treinado para manusear todos os tipos de armas. Ficava meio grilado, mas gostava. Comprei um monte de corrente de ouro e uma Mercedes bem velha. Virei bandido, sabia de tudo. Já pensei em fazer uma guerra armada. Queria tomar o Palácio das Laranjeiras (sede do governo do Rio) porque odiava o (ex-governador) Moreira Franco. Queria matar o Moreira. Eu falava: “Pô rapaziada, ficar arranjando moto ou roupa camuflada para ganhar uma mina da favela é coisa de playboy”. Eu estava pronto, fiz todo o plano, mas eles amarelaram.


Você é um cara bem-humorado até para falar de seus fracassos...
Tem gente que acha que eu canto muito mal e eu também acho. A minha voz é meio repulsiva, eu nunca gostei de ouvir minha voz. A não ser nesse disco. Nunca gostei de cantar nem de tocar guitarra durante toda a minha carreira porque eu era baterista vidrado. Fui expelido da Blitz e tive de me virar para fazer um disco. Não queria ser cantor, então até 1995 vivi na maior crise, falava que ia largar tudo. De repente, comecei a estudar canto. Hoje a minha carreira começa de uma maneira completamente diferente, com prazer. Antes eu era um baterista que compunha alguma coisa ou outra. Não tô denegrindo o meu trabalho não, ele é bom. Mas era caótico, não era sistemático. Agora eu tenho condições de fazer todo o repertório, mixar, tudo. Hoje, só preciso sentar e compor. Nunca foi assim, eu sempre tinha que tomar um porre, ir a vários lugares na mesma noite.


Você está casado há 11 anos com a empresária Regina Lopes. Não quiseram ter filhos?
Tenho uma filha de outro relacionamento, a Júlia. Não tenho tempo para filho, quase não nos vemos. Não vou botar outra criança no mundo para viver uma história que é minha. Adoro criança, tenho sobrinhos e três enteados. Vejo muito os meus sobrinhos. Mas filho não é nada que eu almeje. Tive uma, gostei de ter, mas não tenho teto e não tenho casa própria. Não sou burguês.



Por: Hosana Daher

quinta-feira, 28 de abril de 2011

“O Guardião” de grandes entrevistas do século 20


Bisbilhotando na internet à procura de algum tema interessante para o nosso blogue, encontrei o portal do jornal britânico The Guardian (www.guardian.co.uk). O jornal é um dos mais tradicionais do Reino Unido. Foi fundado em 1821 em Manchester, norte da Inglaterra, mas desde 1976 se estabeleceu em Londres. Em 1993, o grupo de mídia Guardian comprou o também tradicional The Observer, o jornal dominical mais antigo do país, fundado em 1791.

E não é que lá pelas tantas esbarro com uma série chamada “as grandes entrevistas do século 20”? (http://www.guardian.co.uk/theguardian/series/greatinterviews). Estão lá 14 entrevistas históricas com personalidades internacionais. A primeira da série traz a transcrição da entrevista do ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, ao jornalista britânico David Frost, em 1977, três anos após a renúncia do mandatário estadunidense por causa do escândalo mundialmente conhecido como “Watergate”. A entrevista, inclusive, virou filme em Hollywood (Frost/Nixon, Universal Pictures, 2008).

Alguns britânicos famosos são destaque das 14 mais do The Guardian: John Lennon, Princesa Diana, o pintor anglo-irlandês Francis Bacon e a banda de punk rock Sex Pistols. As entrevistas são transcritas do original em áudio ou vídeo e são acompanhadas por outras informações relevantes dos entrevistados. O cubano Fidel Castro é o único latino-americano presente na lista, que inclui ainda o líder negro norte-americano Malcom X e Adolf Hitler. Alguns vídeos e textos foram retirados por causa de direitos autorais. Mas quem quiser pode encomendar a série na página do próprio jornal.  

Dicas para ser um bom entrevistador
No pé da mesma página da série há um artigo do jornalista da casa, Simon Hattenstone, sobre o que é necessário para ser um bom entrevistador. Para ele, mais do que um bom texto, é preciso ser intrometido, entrar na intimidade do entrevistado. Ou, em outras palavras, viver e sentir o personagem que está sendo abordado. Ele faz um apanhado das técnicas de aproximação utilizadas pelos entrevistadores da série e ainda faz um pequeno histórico sobre o surgimento e o desenvolvimento da entrevista na imprensa britânica. Vale a pena conferir o texto em: http://www.guardian.co.uk/greatinterviews/story/0,,2163846,00.html.

Cyro Viegas de Oliveira


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Entrevistas que balançaram o governo Lula

O governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva enfrentou sua maior crise política em 2005 e 2006. O escândalo ficou conhecido nacionalmente como “mensalão”, termo cunhado pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB/RJ) em entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo em 6 de junho de 2005 (http://acervo.folha.com.br/fsp/2005/6/6/2). Jefferson deu detalhes de um  esquema de corrupção no qual parlamentares da base aliada do governo receberiam periodicamente recursos do Partido dos Trabalhadores para aprovar projetos de interesse do Palácio do Planalto. 
O escândalo abalou o governo Lula e só não provocou o impeachment do presidente porque a oposição preferiu deixá-lo “sangrar” até o final do mandato. Três deputados federais, incluindo o próprio Roberto Jefferson, foram cassados. O processo de cassação mais importante foi o do ex-ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República, José Dirceu, que pediu demissão após ser acusado por Jefferson de chefiar o suposto esquema. Zé Dirceu recorreu da cassação no Supremo Tribunal Federal, que indeferiu o pedido.
Outros quatro deputados acusados de receber dinheiro do mensalão renunciaram aos seus mandatos para não se tornarem inelegíveis: José Borba (PMDB/PR), Bispo Rodrigues (PL/RJ), Paulo Rocha (PT/PA) e Pedro Corrêa (PP/PE).

O caseiro que derrubou o ministro
Em 2006, no rastro das denúncias do mensalão, a entrevista de Francenildo dos Santos concedida ao Jornal O Estado de S. Paulo em 14 de março daquele ano provocou a queda do então ministro da Fazenda Antonio Palocci. Francenildo era caseiro de uma mansão no Lago Sul, em Brasília. O local foi apontado pela CPI dos Bingos como ponto de encontro de lobistas com políticos. Francelino afirmou ter visto Palocci diversas vezes em reuniões e festas realizadas na casa, contradizendo o ministro.
Durante a onda de denúncias, o caseiro teve o sigilo bancário quebrado pela Caixa Econômica Federal, possivelmente a mando do próprio ministro. Quando o caso veio a público, Palocci foi obrigado a renunciar. Infelizmente, a entrevista não está disponível no portal do Estadão para não-assinantes. Mas em breve ela estará disponível neste blogue. Por enquanto ficaremos apenas com a reprodução da capa do jornal daquele dia.
O escândalo do mensalão e seus subprodutos não foram suficientes para derrubar o presidente Lula, que se reelegeu em 2006. Mas redesenhou o chamado “núcleo duro” do seu governo. Com as saídas de Dirceu e Palocci, candidatos a herdeiros de Lula, a ala “técnica” do governo ganhou espaço. Guido Mantega assumiu o lugar de Palocci e Dilma Rousseff trocou o Ministério de Minas e Energia pela Casa Civil, ganhando visibilidade e depois a indicação do presidente para sucedê-lo no comando do país. Mas isto é assunto para outras entrevistas.

Cyro Viegas de Oliveira

domingo, 17 de abril de 2011

Freud: "O valor da vida"

Trouxemos hoje uma das grandes e raras entrevistas dada pelo psicanalista Sigmund Freud, ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926. Nesta entrevista, que foi publicada integralmente no "Journal of Psycology", de Nova York, em 1957, o "Pai" da psicanálise fala de sua carreira, de suas opiniões e formas de ver a vida.







     "Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade."
     Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos.

     Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou.

     Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação.     - Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos.     Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.     - Por quê - disse calmamente- deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com suas agruras, chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas - a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr-do-sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?
     -  O senhor teve a fama. Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo - com exceção da sua própria Universidade.     - Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais.
     A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.
     -  Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?     - Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não é certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liqüidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.
(...)
     - Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco, disse eu. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.     - É possível, respondeu Freud,  que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer.
(...)
     - O senhor já analisou a si mesmo?
     - Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros.
     O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.      - Minha impressão é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristã. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. "Tout comprec'est tout pardonner".     - Pelo contrário! - bravejou Freud,  suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu. Compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância para com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento.
     Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, porque ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Uma herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça.     - Minha língua é o alemão. Minha cultura, minha realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu.

Se você quiser ler a entrevista completa clique aqui.


Texto de Camilla Alves.
Postado por Flávia Pereira.

Fonte: SBPSP

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Roda Viva entrevista: Luiz Carlos Prestes


Entrevista com Luiz Carlos Prestes, de 1986, dada ao programa de entrevistas Roda Viva da TV Cultura. Na primeira parte do programa, Prestes que foi militar, político e secretário-geral do PCB, fala sobre diversos temas como política, economia, democracia e a constituinte de 88.
 

Confira aqui outras partes desta grande entrevista:

Texto de Priscilla Santos.
Postado por Flávia Pereira.