segunda-feira, 6 de junho de 2011

Frente a frente com Bin Laden

Robert Fisk, é jornalista e considerado um dos maiores especialistas em conflitos no Oriente Médio e ficou conhecido por ser um dos únicos jornalistas ocidentais a entrevistar pessoalmente o terrorista mais famoso de todos os tempos: Osama Bin Landen.

Após a morte de Bin Landen, Fisk foi procurado para dar sua opinião sobre o futuro da rede terrorista Al Quaeda e principalmente, para relatar como foi sua experiência histórica de conversar com uma figura tão controversa e polêmica.

Em entrevistas recentes sobre o assunto, Fisk afirmou que a morte de Bin Laden não impediria a Al Quaeda de continuar a atuar. Em 2007, para a revista História Viva ele explica a relação do terrorismo contemporâneo e como funciona a rede terrorista mais famosa do mundo.

Do modo como você coloca, o terror é um assunto de Estado, então?
Eu não uso a palavra “terrorismo” nos meus artigos ou nos meus livros, a não ser entre aspas. Eu não a uso porque é uma palavra totalmente desacreditada, ela já não tem mais nenhum significado. É um dispositivo utilizado para assustar as pessoas, para fazer com que elas acreditem que o Islã é nosso inimigo ou para impor novas leis que permitem prender uma pessoa por 90 dias sem direito a advogado. Esta é a primeira vez que uma guerra foi declarada a um substantivo abstrato – a “Guerra contra o Terror”. O que é o “terror”? Pode ser qualquer coisa. Essa idéia toda de “terror”, do meu ponto de vista, é uma armadilha. Usar a palavra em um contexto sério é uma armadilha. Se eu vejo uma revista ou um jornal com a palavra “terror” na capa simplesmente não compro, é lixo.

O que de fato é a Al-Qaeda? Quais são suas raízes históricas?
Para entender a Al-Qaeda é preciso ler história. Um dos problemas é que nem os governos e nem os jornalistas escutam o que Osama bin Laden e a Al-Qaeda dizem nas gravações que divulgam. Bin Laden fala da Declaração de Balfour (um documento secreto do governo britânico de 1917 que definia o plano de divisão dos territórios do Império Otomano ao final da Primeira Guerra Mundial); do Acordo Sykes-Picot de 1916, no qual França e Inglaterra dividiram o Oriente Médio; e fala em especial do Tratado de Sèvres, que acabaria com o Império Otomano, o último califado islâmico, em 1922. Ele sempre se refere aos fundamentos históricos do colapso do islamismo árabe, da perda do último califado e das conseqüências da Primeira Guerra Mundial. O que Bin Laden fez, originalmente, foi expor todas estas humilhações históricas. Muitos dos envolvidos com a Al-Qaeda são pessoas com um alto grau de instrução acadêmica, que entendem de história árabe. Acrescente a isso a obsessão pessoal de Bin Laden com a chegada das tropas americanas ao golfo Pérsico em 1990, quando o rei Fahd preferiu a ajuda dos americanos, e não dos mujahedins que lutaram no Afeganistão, para enfrentar Saddam Hussein. Para Bin Laden, a chegada dos americanos às duas cidades sagradas do mundo árabe – Meca e Medina – e a crescente presença das forças ocidentais é uma repetição de 1099 (ano da chegada dos cavaleiros da Primeira Cruzada a Jerusalém).
Como a Al-Qaeda funciona? Como foi o processo que levou à sua formação?
A Al-Qaeda, é um fenômeno único. Não há registro de filiação, não existe uma associação constituída, não há um financiamento regular. No começo, Bin Laden surgiu como uma inspiração. Os líderes árabes não diziam aquilo que o povo pensava. Quem fazia isso era Saddam, e é por isso que as pessoas gostavam dele. De repente aparece Bin Laden, um árabe falando de uma caverna, como o profeta Muhammad, expressando o que as pessoas pensavam. Inicialmente, a estrutura que ele criou funcionava como uma espécie de ONG: da mesma forma que uma organização quando quer construir uma rede de saneamento em uma vila remota na África se dirige a um governo para pedir recursos, alguns homens procuravam Bin Laden e associados pedindo, por exemplo, 6 mil dólares e dois especialistas em explosivos para atacar um navio no porto de Aden. Bin Laden dizia sim ou não. É como uma espécie de ONG, mas você não vai a um “quartel-general da Al-Qaeda”, como o Washington Post e a Fox News sugeriam. Mas o ponto é que hoje Bin Laden é totalmente irrelevante. Não importa o que ele diz. Ele pode morrer amanhã, tanto faz. O único meio de desativar a Al-Qaeda é tentar levar justiça para o Oriente Médio, mas nós não queremos isso. Queremos impor nossa posição na região. Para isso teremos que continuar lutando contra a Al-Qaeda, e alguns de nossos líderes vêem essa perspectiva com bons olhos! 

Sobre Bin Laden, Fisk falou em matéria exibida pelo Fantástico. Em vídeo, ele conta que os encontros eram sempre em esconderijos e que no começo, os encontros eram tranquilos (na medida do possível) e que Bin Laden era um homem sereno e direto. Porém, no seu último encontro com o terrorista, Fisk sentiu medo em um determinado momento: quando o líder da Al Qaeda tentou converte-lo ao islamismo.
“Ele sempre me cumprimentava com as duas mãos. Eu nunca me senti em perigo"

Sobre seu primeiro encontro, em 1993 no Sudão: " Ele ficou pensativo. Perguntou sobre o que eu queria falar e eu disse: ‘não é sobre "terror, terror, terror". Eu quero que você me diga como foi lutar no Afeganistão contra os russos". Fisk revela que comentar sobre a época em que Bin Laden enfrentou a invasão Soviética no Afeganistão garantiu a criação de uma espécie de "laço" entre o entrevistador e o entrevistado.


                                           Vídeo da Entrevista de Robert Fisk





Texto e Postagem de Ana Carolina Lira Eloy


 

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