quarta-feira, 1 de junho de 2011

Gilberto Freyre

O antropólogo e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987) é considerado como um dos mais importantes sociólogos do século XX. É autor de um clássico da literatura: Casa Grande e Senzala, publicado em 1933. É o livro definitivo da história da formação da sociedade brasileira. Ele trata da presença e influência do negro na estrutura familiar do país, da cama à mesa, da cidade ao campo. Casa Grande e Senzala irritou a elite branca, que descobriu em suas páginas a tese, provocativa, de que o negro havia contribuído muito mais para a cultura brasileira do que a elite imaginava. Sua mensagem representou um divisor de águas na evolução cultural do Brasil e contribuiu para que o país encarasse com mais confiança seu papel no mundo moderno.

Nesta entrevista à Playboy, concedida ao então chefe da sucursal da Veja em Salvador, Ricardo Noblat, Freyre esteve particularmente inspirado: não demonstrou pudor em chamar Oscar Niemeyer de “chato e ignorante”, admitiu aventuras homossexuais depois dos 20 anos de idade e reconheceu ter traído sua mulher.

Confira abaixo algumas partes da entrevista:
Playboy – As vantagens do sucesso são óbvias: o reconhecimento, os lauréis, os títulos. E as desvantagens?
Freyre – A desvantagem é que você fica muito exposto ao chato [risadas]. Essa é a desvantagem principal, porque o chato existe e não é só brasileiro: o chato é internacional... E você tem de se defender sem magoar aquilo que o chato bem-intencionado representa. Porque o chato por vezes é bem-intencionado. Ele não é chato porque quer ser: ele é chato porque é chato.

Playboy - Cite alguns chatos.
Freyre – O Oscar Niemeyer, meu amigo, que é um arquiteto genial. É muito ignorante. É difícil você manter uma boa conversa com ele. É que ele, como o Arraes, não sendo um homem de inteligência muito abrangente, repete muitos os chavões que aprendeu. Como você sabe, um dos sucessos do comunismo marxista russo-soviético é dispensar seus slogans e chavões. Mas há pessoas que são muitíssimo mais interessantes escrevendo do que falando. Rubem Braga é assim: conversando ele é quase um chato. Já o Ariano Suassuna é o contrário. Mas há chatos que você tem de respeitar e admirar, por sua integridade...

(...)

Playboy – Sendo um homem tão sensual, o senhor já traiu sua mulher?
Freyre – Já, mas com autorização dela, quando viajei sem ela para a África e o Oriente. Nós viajamos muito juntos, mas dessa vez eu iria sozinho e a viagem seria bastante longa, minha mulher autorizou a ter experiências sexuais durante essa ausência de meses. Foi em 1951, 52.

Playboy – E essas experiências acrescentaram muita coisa ao conhecimento que o senhor tinha sobre sexo?
Freyre – Sem dúvida acrescentaram, porque foi com mulheres de tipo exótico, que me interessava conhecer do ponto de vista antropológico. Foram experiências valiosas para mim inclusive desse ponto de vista. Lembro-me de que, em Lourenço Marques [atual Maputo, capital de Moçambique], alguns amigos me ofereceram uma ceia muito amável e que lá conheci umas mulheres muito refinadas, européias, muito louras. Mas se eu me interessasse por elas seria uma traição à minha esposa. Mas, com autorização dela, tive experiências com mulheres pretas e mulatas na África; e com uma indiana em Bombaim.

Confira a entrevista na íntegra.

Texto: Caroline Sved
Postagem: Camilla Alves

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